Após a exposição “Sacrilégios” em Torres Novas, nos meados de 2019, Luís Rodrigues seguiu para a Galeria São Mamede no Porto. Esta exposição haveria de encerrar mais um ano intenso, marcando a sua indelével ligação a Portugal. E, no seu regresso a Paris, levou o compromisso de voltar com novos trabalhos, o mais breve possível. No verão de 2019 deambulou pela Bretanha e, fascinado pelas falésias graníticas, realizou uma série de desenhos. Talvez aqui se tenha iniciado um processo alquímico, que o empurraria à realização dos trabalhos agora expostos em Lisboa.
Este processo alquímico e criativo revelarseia, definitivamente, depois de visitar a aldeia de Monsanto; qual reino da pedra em que, como Luís Rodrigues refere, “subir, subir, subir por atalhos e de graus abertos a picão no granito duro à flor da pedra”. A partir daqui é inevitável seguir até José Saramago tentando entender o “que há de pedra nas pessoas e o que das pessoas passou a pedra”. Na Galeria São Mamede, até ao dia 20 de julho, este punhado de fantásticas obras, em tela e papel, dá continuidade a uma pintura bem vincada no seu estilo e inegavelmente representativa da melhor arte contemporânea. “Tudo é e foi, mas parece não ser” é o título desta exposição e aparenta falar de verdades que se ocultam em pensamentos erráticos. Ou afirmar que as inertes fragas cantam no seu silêncio ou que as falésias graníticas de Pouldu, em titânica defesa, enfrentam o imparável mar.
Estas obras dão continuidade a uma paleta exuberante, capaz de preencher telas e papéis, num complexo processo onde a riqueza da densa composição não deixa lugar, mais uma vez, a que a luz se instale. Luís Rodrigues é neto de Faustino Bretes e nasceu em Torres Novas no ano de 1948. A sua carreira há muito que se internacionalizou e os seus trabalhos hoje residem em museus e coleções um pouco por todo o mundo. Reside em França desde 1967 e tem, no seu vasto currículo, cerca de 300 exposições individuais ou coletivas.